Enquanto o Brasil caminhava na busca por produtividade dentro da pecuária extensiva, em uma pequena ilha americana do Caribe surgia uma ferramenta que, décadas depois, viria se tornar a grande solução para a produção de carne a campo nos trópicos. O Senepol foi descoberto longe do Brasil, mas, a partir daqui, ganhou fama internacional, volume e qualidade.
A história do Senepol iniciou-se na metade do século XIX, em Saint Croix, Ilhas Virgens. A família Neltropp era a maior criadora de N`Dama da ilha, com 250 cabeças de animais puros. Apesar de apresentarem alta capacidade de adaptação, resistência ao clima quente e a ectoparasitas, os animais de origem africana possuíam baixa produtividade para carne e leite.
A população da ilha aumentava e, com isso, era crescente a demanda por alimentos. Foi então que Neltropp, avaliando várias raças de climas temperados, conheceu o Red Poll e adquiriu o primeiro touro de origem britânica, para cobrir as fêmeas N´Dama e fornecer produtos que, mais tarde, seriam nomeados Senepol – “Sene”, da origem africana senegalesa, e “pol”, de Red Poll.
A mescla de sangue resultou em um taurino extremamente adaptado, com a rusticidade do gado africano e musculatura, escore corporal e qualidade de carne do britânico. Foi o suficiente para suprir a população da ilha com um animal completo, tanto para a região do território com maior incidência de chuvas (WC), como para a outra metade do país, com clima mais seco (CN).
Após alguns anos, foi feita a primeira exportação por carregamento aéreo de animais Senepol aos EUA, onde em meados da década de 1950 foi criada uma associação internacional para controle da raça.
No ano 2000, vieram os primeiros animais para o Brasil, importados dos melhores rebanhos dos EUA, de Saint Croix e do Paraguai, onde a raça primeiro desembarcou na América do Sul. O Senepol se adaptou perfeitamente ao Brasil e, rapidamente, avermelhou a pecuária de corte em diversas regiões. O taurino adaptado gerou safras de bezerros que levaram muitos criadores a buscarem genética para formar novos touros, a fim de atender uma demanda cada vez maior por reprodutores que foram consolidando o rebanho de diversos selecionadores brasileiros.
Em 2002, surgiu a ABCB-Senepol e o Brasil passou a contar com sua própria entidade para registrar os animais. Com um crescimento estimado em 30% ao ano em número de cabeças e de associados, a raça se consolidou. Uma das razões foi a utilização de biotecnologias de reprodução, como FIV e TE, em fêmeas que os selecionadores identificaram com muita responsabilidade em programas de avaliação e melhoramento genético adotados por grupos de criadores, em parceria com importantes instituições de avaliação.
A Bela Vista Senepol foi uma dessas marcas que viu no Senepol um grande benefício para produção de carne a campo, a grande aptidão da pecuária brasileira. Enxergou a necessidade do mercado de encontrar essa ferramenta que reduz custo de produção e aumenta em até 30% a produtividade a campo. E passou a formar um material genético de confiança, que ajuda a explicar uma parte do sucesso dessa raça adaptada que só faz crescer no Brasil.
UM TAURINO COMPLETO
O Senepol que se conhece hoje é o mesmo que se formou na Ilha de Saint Croix, no Caribe, desde o século XIX, com a descoberta da raça, que foi melhorando com o passar dos anos. Diversos recursos de tecnologia são usados pelos selecionadores para potencializar o que a natureza moldou na raça, que produz, como nenhuma outra, carne a campo com eficiência e qualidade, graças às diversas características, algumas delas descritas abaixo.
1 – PRECOCIDADE SEXUAL
Novilhas entram em cio precocemente, a partir dos 12 meses de vida, e a facilidade de parto permite vigor aos bezerros, o que evidencia uma grande habilidade materna nas fêmeas. Garrotes também iniciam vida reprodutiva mais cedo, pois atingem pesos corporais rapidamente, apresentando precocidade para cobrir a campo a partir de 14 a 16 meses de idade. Estudos mostram que, já aos 12 meses, os machos Senepol começam a produzir sêmen viável à reprodução.
2 – LONGEVIDADE
É comum vacas Senepol apresentarem boa produção de oócitos ainda entre 15 e 18 anos de vida. Ao visitarem as Ilhas Virgens, criadores se impressionam com o número de vacas que possuem até 20 anos de idade ainda em atividade reprodutiva. Outro diferencial é a vida útil do reprodutor, que cobre a campo por até dez anos.
3 – TOLERÂNCIA AO CALOR
Possui alta capacidade de adaptação a diferentes ambientes. Adapta-se a diferentes níveis de manejo da pecuária e encontra alimento facilmente. Vive bem em regiões pantanosas, de mata, de cerrado, áridas, de campos quentes ou frios. A morfologia de sua glândula sudorípara, aliada à característica de possuir pelo zero, permite que o Senepol dissipe calor e apresente mais conforto térmico para suportar as exigências de climas diversos.
4 – IMUNIDADE
Essa resistência ao calor e condição corporal também proporciona alta resistência a moscas e carrapatos. Possui maior imunidade sob condições normais, otimizando o manejo dos animais na fazenda, reduzindo custos de produção e ainda beneficiando qualidade de carcaça e de carne.
5 – DOCILIDADE
Originalmente manso e inteligente, pela seleção natural da criação em regime solto na ilha, o Senepol conserva o benefício da docilidade, que facilita o manejo, reduz risco de acidentes com mão-de-obra e custos com manutenção de currais e instalações. De caráter mocho dominante em pelo menos 95% da progênie, elimina a necessidade da descorna e o risco de acidentes na lida com o gado. Essa característica, apontam estudos, também é transmitida aos produtos de cruzamento industrial, o que igualmente gera valor agregado nos animais comerciais.
6 – ELEVADO GANHO DE PESO
Animal de rápido crescimento e, portanto, de pecuária para ciclo de engorda curta, com maturação de peso e carcaça frigorífica em idades ainda precoces. Possui elevada taxa de conversão alimentar e desmama de bezerros muito pesada, em média entre 260 e 300 quilos (machos e fêmeas puros).